quinta-feira, 17 de março de 2011

A renovação do entendimento: valores espirituais contra valores humanos‏


João 3. 1-7; 4. 5-15; e 4. 31-34:
É interessante notar os mal-entendidos que cercam os diálogos entre Jesus e Nicodemos, entre Jesus e a mulher samaritana e, por último, entre Jesus e seus discípulos. Esses personagens não compreendiam o Mestre. Por isso, Nicodemos fica confuso quando Cristo lhe fala em “nascer de novo”; a mulher samaritana pede a “água viva” só para não ter mais que fazer o esforço de ir tirar água do poço; e os discípulos ficam se perguntando sobre o que Jesus comera, quando, na verdade, Ele se referia à alimentação espiritual. Nesses três casos, a Palavra de Deus referindo-se a verdades espirituais e o ser humano tentando interpretar conforme a ótica humana.

Nós podemos conhecer a Jesus e estar com Jesus, contudo, não compreender a verdade do Evangelho por estar presos à ótica humana e aos valores do mundo. Por que encontramos pessoas que, apesar de estarem há bastante tempo na igreja, ainda são como bebês na fé (não alcançam maturidade espiritual) e dão mau testemunho permanentemente? Ou simplesmente querem bênçãos materiais de Deus e, quando não têm nada para pedir, ficam “sem assunto” na oração?

A resposta é que há pessoas que estão interpretando o Evangelho, a mensagem de Cristo, de acordo com o modo de pensar do homem natural. Em Provérbios 23.7, lemos que “como o homem imagina em sua alma, assim ele é”. Ou seja, nós somos e agimos de acordo com aquilo em que acreditamos. São valores que temos dentro de nós e que nos influenciam nas decisões que tomamos e na forma como vemos o mundo e a vida.

Para a Bíblia, há duas categorias de valores: a espiritual, que é a do Evangelho e que foi pregada por Cristo; e a carnal, que é o modo de pensar deste mundo. Nós lemos isso em Efésios 2.1-10: que há um grupo de pessoas, aquelas que não estão em Cristo, que andam “segundo o curso deste mundo” (que é controlado por Satanás, príncipe das potestades do ar e espírito que opera nos filhos da desobediência), fazendo “a vontade da carne e dos pensamentos”. Por outro lado, o versículo 10 mostra que nós, que fomos salvos pela fé em Cristo, saímos daquela condição: “Pois foi Deus quem nos fez o que somos agora; em nossa união com Cristo Jesus, ele nos criou para que fizéssemos as boas obras que ele já havia preparado para nós.”(NVI)

O risco ao qual devemos prestar atenção é o de, se dizendo convertidos, vivermos de acordo com os valores do mundo, “segundo o curso deste mundo”. Em Romanos 12.2 temos a advertência que nós não podemos assumir a forma deste mundo (ou seja, pensar de acordo com ele), mas devemos nos transformar pela renovação do nosso entendimento.

Obs.:
é interessante notar aqui que a palavra que Paulo usou para dizer “transformai-vos”, no grego, está relacionada àquela usada para falar da transfiguração de Jesus nos Evangelhos. A palavra é “metamorphoo”, da qual temos, no português, “metamorfose”. Ou seja, devemos passar por uma metamorfose do carnal para o espiritual, da natureza humana para a natureza divina;

nós é que realizamos a ação de renovar nosso entendimento;
a palavra “mente” no original grego inclui “as faculdades de perceber e entender, bem como a habilidade de sentir, julgar, determinar”. É isso que tem que ser renovado em nós e que não pode se amoldar aos padrões mundanos;

essa renovação do entendimento é requisito para que experimentemos a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.

Outra advertência nesse sentido é a de Colossenses 2.6-8: temos de nos manter em Cristo e não nos deixar ser enganados por doutrinas que trazem consigo a “tradição dos homens” e os “rudimentos do mundo”. Da mesma forma, se estivermos vivendo segundo os valores deste mundo, podemos cair no que Paulo descreve em 2 Timóteo 2.3 e 4, distorcendo o Evangelho de acordo com a nossa própria maneira de pensar - heresia.

Vejamos, então, alguns valores mundanos que têm marcado o modo de as pessoas pensarem atualmente e que tentam invadir nossa mente para nos distanciar da verdade. O sistema filosófico predominante hoje é o humanismo, a ética humanística, que coloca o homem como o centro de todas as coisas. O pensamento de que “o homem é a medida de todas as coisas” expressa bem tal raciocínio.

Hedonismo: o certo é aquilo que é agradável, aquilo que dá prazer. Para ter uma vida cheia de sentido e significado, cada pessoa deve buscar aquilo que lhe dá prazer e felicidade. Quando isso entra na nossa mente, começamos a discordar da Bíblia quando ela diz que “temos de nos alegrar na tribulação”, perdemos o senso de que somos peregrinos e forasteiros neste mundo, passamos a procurar a amizade do mundo (e Tiago disse que ela é inimiga de Deus), vivemos um Evangelho chocho, opaco, muito diferente daquele que Jesus disse que nos traria rejeição e perseguição. Jesus não nos deu esperanças de ter prazer pessoal ao segui-lo. “Se o mundo me rejeitou, ele também os rejeitará”, disse. Seguir a Cristo é negar-se a si mesmo e declará-lo Senhor. Hedonismo é afirmar-se a si mesmo, como centro e merecedor de todo prazer.

Esse raciocínio tem invadido a igreja: muita gente tem tratado a congregação como lugar de satisfação individual – se não dá prazer, é só mudar. Os cultos, então, têm de ser shows, mexer com as emoções do público. E por não identificar que está com valor errado dentro de si, a pessoa chama o sentir-se bem emocionalmente de “sentir a presença de Deus”. Além dessas constatações, cabe espaço para a pergunta: onde se encaixa nesse raciocínio a noção de ser servo, de que Jesus tanto falou? A busca pelo agradável desdobra-se no individualismo e no materialismo, com suas conseqüências negativas e antibíblicas.

Pluralismo ou relativismo: há várias formas de pensar e de ver o mundo. Não existe uma verdade absoluta. “Ninguém é dono da verdade”, costuma-se dizer. Cada um tem a sua verdade e ninguém tem nada com isso, temos é que tolerar. Há, sim, uma verdade absoluta: Jesus e sua Palavra. Ele é “o caminho, a verdade e a vida.” O relativismo e a tolerância pregada pelo pluralismo é um golpe à missão profética da igreja no mundo e justifica distorções gritantes da verdade espiritual.

CONCLUSÃO: Temos de rever os valores sobre os que estamos conduzindo nossas vidas. Como escreveu Luiz Sayão, “não posso fazer alguma coisa só porque todo mundo faz”. Devemos viver segundo os valores cristãos. E eles são absolutamente opostos aos aceitos por este mundo que jaz no maligno.

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